Relatoria Ostensiva Tobias de Aguiar
Eterno 1º tenente da "polícia que mata", Derrite parece ter sido encarregado de tirar a PF do encalço de mafiosos graúdos e de equiparar traficante a terrorista para "legalizar" chacinas nas favelas.
Em ostensivo conluio com Tarcísio de Freitas e em enésima rasteira no governo Lula, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, entregou a um notório exemplar do “bolsonarismo raiz”, Guilherme Derrite, a relatoria do Projeto de Lei Antifacção apresentado pelo Executivo no dia 1º de novembro, quatro dias após a operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro — a megachacina político-eleitoreira promovida por Claudio Castro nos complexos da Penha e do Alemão a título de “contenção” do Comando Vermelho.
Secretário de Segurança Pública licenciado por Tarcísio para assumir a relatoria do PL Antifacção — para estropiar o PL do governo com um substitutivo bolsonarista —, o deputado Derrite é, ele próprio, corresponsável pela operação policial mais letal da história de São Paulo depois do massacre do Carandiru, a operação Escudo/Verão, com 84 mortos — e evidências de execuções sumárias e tortura — na Baixada Santista entre julho de 2023 e abril de 2024. Derrite é, ele próprio, como Claudio Castro, pré-candidato ao Senado no plano de sua facção política para tomar o Salão Azul do Congresso nas eleições do ano que vem, a fim de eliminar, no sentido figurado, seus inimigos no STF.
Apesar de tudo isso, ou melhor, por causa disso tudo, Hugo Motta entregou a Guilherme Derrite a relatoria do PL Antifacção, naquela que seguramente é a maior das tantas irresponsabilidades com o país cometidas pelo presidente da Câmara em pouco mais de nove meses no cargo. Não obstante, Derrite, em seu parecer — no qual quebra as pernas da Polícia Federal e abre os braços para Trump brincar de batalha naval na Baía de Guanabara —, refere-se a si próprio como “profissional da segurança pública e jurista comprometido com a técnica legislativa e com a efetividade das normas penais”.
Guilherme Muraro Derrite foi um profissional de segurança pública expulso da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, a Rota, “a polícia que mata”, por excesso de mortes em serviço. Em 2015, o “jurista”, então 1º tenente da PMESP, foi preso administrativamente por criticar em sangrentos termos, num grupo de PMs no WhatsApp, a decisão do comando da corporação de transferir de unidades os policiais envolvidos em três mortes ou mais nos cinco anos anteriores — tentativa de reduzir a letalidade policial no estado então governado por Geraldo Alckmin e que tinha como secretário de Segurança Alexandre de Moraes.
“Porque pro camarada trabalhar cinco anos na rua e não ter ma… três ocorrências, na minha opinião, é vergonhoso, né. Mas é a minha opinião, né”, disse, na época, o hoje responsável pela Relatoria Ostensiva Tobias de Aguiar do PL Antifacção.
O eterno 1º tenente parece ter sido encarregado pelos chefes da sua facção política de tirar a Polícia Federal do encalço dos mafiosos graúdos (e das ramificações das máfias na Faria Lima, nos palácios guanabarinos e bandeirantes, nas próprias secretarias de Segurança Pública) e equiparar traficantes a terroristas para validar na lei as matanças eleitoreiras nas favelas. Quem sabe uma “Operation Containment” do Comando Sul dos EUA no complexo da Penha ou do Alemão, em Paraisópolis ou na Favela do Moinho, contra a arraia-miúda do varejo de cocaína, para agitar as eleições do ano que vem.
Hoje, o efetivo da PM de São Paulo é de cerca de 90 mil policiais. Pelo corte macabro do 1º tenente Derrite — pelo menos três mortes por policial a cada cinco anos —, a PM de São Paulo deveria matar, no mínimo, 270 mil pessoas a cada cinco voltas que a Terra dá em torno do sol, se não quiser passar vergonha. Seriam, em média, 54 mil pessoas mortas por ano, 147 cadáveres por dia. É mais do que Claudio Castro chacinou no dia 28 de outubro no Rio. É mais do que o Estado Islâmico assassinou nos ataques terroristas de 2015 em Paris. É o mesmo número de trucidados na matança promovida pelo grupo terrorista Al-Shabaab em uma universidade no Quênia, em 2015 também, naquele mesmo ano em que o 1º tenente Derrite se pôs a medir a honra e o mérito de um PM pelo número de corpos que ele deixou para trás, estirados no chão.
Em janeiro de 2023, Derrite, já secretário de Tarcísio, garantiu à Folha de S.Paulo que na verdade não pensa assim, não; que, ao ver “bons policiais” sendo transferidos de batalhão, foi “tomado por emoção momentânea”. É o que eles sempre dizem, contando com a memória ruim de todos, com a guarida dos seus e com a moleza dos que têm a responsabilidade de impor a eles contenção. É o que sempre dizem, antes de atacarem novamente.
Fontes
https://conectas.org/noticias/operacao-escudo-verao-um-ano-de-violencia-e-letalidade/





