Rio: tiros 'na cabecinha' do trabalhador
Três trabalhadores morreram nesta quinta, no Rio, com tiros na cabeça porque a PM de Claudio Castro promoveu um tiroteio na Avenida Brasil na hora da saída do carioca para o trabalho.
Vai fazer seis anos daqui a uma semana, e foi realmente inesquecível.
"Tem toda uma discussão jurídica, e eu não quero ocupar nossa entrevista com isso", disse a tarimbada jornalista a Wilson Witzel no programa Globo News Miriam Leitão exibido no dia 1º de novembro de 2018.
O “isso” era o que o então governador eleito do Rio de Janeiro tinha dito dias antes em outra entrevista, ao Estadão: "o correto é matar o bandido que está de fuzil. A polícia vai fazer o correto: vai mirar na cabecinha e... fogo! Para não ter erro".
Mas não vamos ocupar demais as entrevistas com discussões sobre políticas criminais com derramamento de sangue.
A entrevista, como a vida, é curta. Que o digam Renato Oliveira, de 48 anos, Geneilson Ribeiro, de 49, e Paulo Roberto de Souza, de 60. Os três foram mortos nesta quinta-feira, 24, no Rio de Janeiro, cada um com um tiro na cabecinha.
Renato, Geneilson e Paulo Roberto nem eram bandidos, nem estavam de fuzil. Renato era funcionário de um frigorífico. Geneilson era motorista de caminhão. Paulo Roberto era motorista de aplicativo.
Ele morreram porque a polícia de Claudio Castro, eleito de lambuja com Witzel, mais fascista que Witzel, resolveu fazer uma operação “contra o roubo de cargas” na beira da avenida com o maior fluxo viário da capital fluminense bem na hora em que os trabalhadores estão saindo para trabalhar.
Várias outras pessoas ficaram feridas no fogo cruzado. As imagens de crianças deitadas no chão dos ônibus e agachadas junto às muretas da Avenida Brasil só não são mais chocantes do que a impunidade certa de Claudio Castro e dos comandos policiais do Rio de Janeiro.
“Não houve chacina alguma” disse Claudio Castro em 2022 quando sua polícia matou 23 pessoas de uma vez só na Vila Cruzeiro, e ficou por isso mesmo.
“Não houve sequestro, não houve nada disso que a imprensa está colocando por aí”, disse Claudio Castro na semana passada, quando cinco ônibus foram sequestrados no Rio.
“Não foi um erro, mas uma ação necessária”, disse nesta quinta a porta-voz da PM do Rio, Claudia Moraes, sobre a operação absurda, desastrosa, que custou a vida de três trabalhadores.
Ela disse ainda que a PM não esperava uma reação tão forte de criminosos armados à operação. Quem, no Rio de Janeiro, poderia imaginar uma coisa dessa?
No início da tarde desta quinta, com os três cadáveres ainda quentes, a PM do Rio fez em suas redes sociais a seguinte publicação-provocação:
“Em situações de risco, a calma e a estratégia são as maiores aliadas para transformar o perigo em superação. Mantenha o foco na missão e continue!”