'Seu corpo, minha escolha, para sempre'
Um reich para durar mil anos, ou melhor, o “mandato poderoso e sem precedentes” de Donald Trump nos EUA.
Porto Rico ainda não tinha sido chamado de “ilha de lixo”, os judeus, de sovinas, e ainda nem tinha sido repetida no palco do Madison Square Garden, pelo “humorista”, a velha piada racista dos minstrel shows do tempo da escravidão, associando negros a idiotas comedores de melancia.
Donald Trump fez seu comício de encerramento de campanha no dia 27 de outubro, em Nova York, mas o evento foi comparado desde antes de acontecer com o grande comício nazista realizado no mesmo local em 1939, quando o Madison Square Garden foi decorado com uma enorme imagem de George Washington rodeado de suásticas.
Há dois anos, em novembro de 2022, Donald Trump anunciava sua segunda candidatura à Casa Branca, num pronunciamento feito em Mar-a-Lago. Dez dias depois do anúncio, Trump recebeu em Mar-a-Lago, para um jantar, o rapper antissemita Kanye West e o notório supremacista e negador do Holocausto Nick Fuentes.
Fuentes comanda um podcast com mais de 100 mil inscritos chamado “America First”. É o mesmo nome, “America First”, da organização que botou 20 mil simpatizantes do nazismo no Madison Square Garden em 1939, com vários campos de concentração em pleno funcionamento e às vésperas da Segunda Guerra Mundial.
Na época - do jantar -, o renomado advogado David Friedman, judeu e ex-embaixador dos EUA em Israel no primeiro governo Trump, foi ao Twitter classificar como “inaceitável” o encontro do então ex-presidente-novamente-candidato com “uma escória humana como Nick Fuentes”.
Agora, Friedman já teria aceitado ser embaixador do segundo governo Trump na ONU, representando, na prática, a escória humana sionista e o genocídio contra o povo palestino.
Nesta quarta-feira, 6, Nick Fuentes foi ao Twitter, agora X, onde ele tem quase meio milhão de seguidores, comemorar assim o reich para durar mil anos, ou melhor, o “mandato poderoso e sem precedentes” do seu velho anfitrião na Berghof, desculpe, em Mar-a-Lago:
“Seu corpo, minha escolha. Para sempre”.
De fato, o Projeto 2025, espécie de plano de governo informal de Trump, prevê o aniquilamento do direito ao aborto nos EUA. O Projeto 2025 foi elaborado por mais de 100 “organizações conservadoras” que “se uniram para garantir que uma administração bem-sucedida comece em janeiro de 2025”.
Entre elas, a Concerned Women For America, Independent Women’s Forum e The Institute For Women’s Health…
O Projeto 2025 foi elaborado sob a coordenação da Heritage Foundation, think tank que transitou alegremente de bastião do reaganismo para o colo de Victor Orbán, primeiro-ministro autocrata da Hungria. Nove em oito cientistas políticos têm dito que o “mandato poderoso e sem precedentes” de Trump será a “orbanização” dos EUA, ou seja, a supressão de quaisquer freios e controles institucionais à vontade executiva, carrasca, executora.
Em março, o manda-chuva da Heritage Foundation, Kevin Roberts, recebeu Victor Orbán na sede da organização, em Washington. Pouco depois, em abril, Roberts foi recebido no podcast de Steve Bannon - o indefectível Bannon -, onde disse que uma vitória de Trump em novembro seria uma “segunda Revolução Americana”, e disse mais, no podcast de Bannon, chamado “War Room”:
“Sem derramamento de sangue, se a esquerda permitir”.
Mesmo diante de tudo isso, o ministro da Fazenda do Brasil, Fernando Haddad, tentou minimizar a vitória de Donald Trump nos EUA dizendo que o discurso da vitória de Trump foi “mais moderado”.
Mas era apenas Haddad tentando, as usual, acalmar o mercado…