Sobre a checagem das falas de Lula na abertura da Assembleia Geral da ONU
Estadão Verifica, por exemplo, analisou 17 afirmações feitas por Lula na ONU. O resultado foi 16 "verdadeiras" e um carimbo de "falta contexto" - um "meio certo" da Escolinha do Professor Mesquita.
Tão logo terminou o discurso de Lula na Assembleia Geral das Nações Unidas, na manhã desta terça-feira, 24, as agências de checagem de fatos vinculadas ou não aos jornalões correram para preparar seus mentirômetros, mas dessa vez não deu.
O Estadão Verifica, por exemplo, passou na lupa 17 números, datas, comparações de grandeza ou outras afirmações factuais feitas por Lula na ONU. O resultado do escrutínio foi o seguinte: 16 afirmações classificadas como “verdadeiras” e uma recebendo o carimbo de “falta contexto”.
O “meio certo” dado pela Escolinha do Professor Mesquita foi para a afirmação de Lula de que o Brasil reduziu o desmatamento na Amazônia em 50% no último ano. “De fato”, diz o Estadão, mas…
“no entanto - prossegue o jornal -, o presidente não disse que o desmatamento do Cerrado, o segundo maior bioma brasileiro, aumentou em 2023”.
Ok. Não vale a pena brigar por essa. Mas vale a pena comparar a checagem feita pelo Estadão do discurso de Lula na abertura da Assembleia Geral da ONU com as checagens feitas pelo Estadão nas vezes em que foi Jair Bolsonaro quem ocupou o púlpito de mármore verde em Nova York.
Em 2022, por exemplo, o Estadão Verifica se debruçou sobre 17 afirmações feitas por Bolsonaro na abertura da Assembleia Geral da ONU, mesmo número da checagem de falas feita agora com Lula.
O resultado foi o seguinte: cinco afirmações classificadas como “falsas”, quatro como “enganosas”, duas “imprecisas”, uma “exagerada”, uma “controversa”, uma “verdadeira em partes”, um “falta contexto”, uma “não é bem assim” e outra com “dados incorretos”.
A quantidade enorme de carimbos informa sobre a dificuldade que é achar mentiras ou verdades, ou isto ou aquilo, no discurso político, mas chama a atenção que, em 2022, das 17 afirmações factuais de um presidente do Brasil abrindo a Assembleia Geral da ONU, nenhuma pôde ser classificada como “verdadeira”.
No dia do primeiro turno das eleições de 2022, o Estadão publicou um editorial intitulado “Nem Bolsonaro, nem Lula”. O editorial dizia que “não é compatível com a democracia condenar o eleitor à escolha entre o lulopetismo e o bolsonarismo” e que Lula e Bolsonaro, “cada um à sua maneira, violentam vários dos princípios que orientam o Estadão há mais de um século”.
Era a versão 2022 do famigerado editorial “Uma escolha muito difícil”, publicado pelo Estadão em 2018 tão logo saiu a confirmação de que Bolsonaro e Fernando Haddad disputariam o segundo turno. Mas esse é o Estadão: há mais de um século indeciso, quando muito, entre a verdade e a impostura.