Sobre a chuva de autoridades brasileiras pegas de surpresa em Israel
Sobre os prefeitos, secretários e até um governador que se enfiaram em aviões para “buscar parcerias” com Israel no meio do genocídio do povo palestino e agora estão malocados em abrigos antiaéreos.

Entre a miríade de prefeitos e secretários brasileiros - e até o governador de Rondônia - que estão debaixo da terra prometida, em bunkers de Israel, protegendo-se do revide do Irã à especulação de Benjamin Netanyahu com a guerra nuclear, entre eles está o coronel da PM do Rio de Janeiro Gilson Chagas, secretário de Segurança de Niterói, na região metropolitana do Rio.
Niterói foi a única cidade da região metropolitana do Rio onde Lula derrotou Jair Bolsonaro nas eleições de 2022. Nas eleições de 2024, o candidato do campo democrático Rodrigues Neves, do PDT, derrotou o bolsonarista Carlos Jordy no segundo turno e foi eleito prefeito da cidade.
Com boa vontade, pode-se dizer que Rodrigo Neves é um quadro da esquerda. Quanto a Carlos Jordy, se você não está ligando o nome ao fascista, Jordy é um dos deputados federais do PL, ao lado de Nikolas Ferreira, que nesta semana fizeram “molecagem” com o ministro Fernando Haddad no Congresso Nacional. Mas se Jordy tivesse vencido em Niterói, também mandaria secretários em missão oficial a Israel no meio do genocídio do povo palestino.
A vitória de Rodrigo Neves sobre Carlos Jordy em Niterói não foi apertada, mas também não foi de lavada: 57% a 42%.
Durante a campanha, Neves e Jordy participaram de um culto na filial niteroiense da igreja Lagoinha, notório reduto de bolsonaristas chiques, baluarte do coaching neopentecostal, congregação de muitos que acreditam que Jesus de Nazaré morreu na cruz dos romanos para lhes dar um Jeep Renegade, apartamento na praia e ingresso para cruzeiro com Gusttavo Lima, com dois “Ts”.
Em campanha, Rodrigo Neves foi à Lagoinha em Niterói beijar a mão do pastor da igreja, Felippe Valadão, com dois “Ps”, que meses antes tinha sido indiciado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro por intolerância religiosa, por ter berrado assim no palco de um evento oficial, mas gospel, em outra cidade do Grande Rio:
“De ontem pra hoje tinha quatro despachos aqui na frente do palco. Avisa aí pra esses endemoniados de Itaboraí: o tempo da bagunça espiritual acabou, meu filho. A igreja está na rua! A igreja está de pé! E ainda digo mais: prepara para ver muito centro de umbanda sendo fechado na cidade!”.
Em Niterói, com Rodrigo Neves e Carlos Jordy de pé na nave da Lagoinha, Felippe Valadão chamou um advogado da igreja ao palco para ler uma “carta-compromisso com os valores cristãos”.
A carta dizia o seguinte:
“Eu, candidato a prefeito da cidade de Niterói, registro e assumo os compromissos abaixo discriminados, visando manter inviolados os princípios cristãos deixados por Jesus Cristo em sua Bíblia Sagrada: não adotar políticas públicas contrárias aos princípios cristãos, principalmente nas escolas públicas; não subverter, corromper, modificar os princípios bíblicos da família tradicional, isto é, homem com mulher e mulher com homem; não permitir, apoiar, incentivar, estimular a imposição de ideologia de gênero contrária à heterossexualidade e da orientação sexual que seja contrária ao sexo biológico, em qualquer órgão ou estrutura do poder público municipal, principalmente nas escolas públicas [a nave se agita, manifesta-se, apoia]; determinar que as escolas públicas não incentivem, ensinem ou estimulem a escolha do gênero com base em sentimentos; a identidade sexual ensinada na rede pública deve ser a do sexo biológico; ser contrário a qualquer projeto de lei, normas ou afins, emanadas por qualquer órgão do poder público municipal que autorize pessoas transexuais ou pessoas biologicamente do sexo oposto a escolher o banheiro que pretende utilizar de acordo com a sua percepção de gênero”.
Após a leitura da carta, Valadão convidou os dois candidatos a assiná-la. Carlos Jordy pulou no palco e pediu uma caneta. A uma semana da eleição, Rodrigo Neves tinha caído numa emboscada. Pego de surpresa, tipo autoridade brasileira em visita a Israel, Neves pegou o papel e o entregou para sua esposa. No dia seguinte, um conhecido pasquim de Niterói informou seus leitores que Jordy tinha assinado um “compromisso com os cristãos”. E Neves? “Rodrigo Neves se esquivou”.
Quanto ao pastor bolsonarista, Felippe Valadão foi um dos brasileiros que em outubro de 2023 ficaram em apuros em Israel após o ataque do Hamas. Este enésimo fruto do milagre da multiplicação de Valadões tinha levado 100 ovelhas à terra prometida por El Shaddai ao povo de Israel sem combinar com o povo palestino. Todos foram repatriados pelo governo Lula, num avião da FAB, mas depois o servo do Senhor disse no púlpito da Lagoinha em Niterói que Lula não teve “nada a ver” com o resgate da caravana, atribuindo a repatriação a um deputado do Centrão.
Agora é o coronel da PM feito por Neves secretário de Segurança de Niterói quem está em maus lençóis em Israel, enfiado num abrigo antiaéreo para se proteger da chuva de mísseis do Irã, junto com uma penca de políticos bolsonaristas que se enfiaram em aviões para beijar a mão do sionismo, para “buscar parcerias” com Israel quando passa de 50 mil o número de crianças mortas ou feridas por Israel na Faixa de Gaza e no momento em que um ativista brasileiro, Thiago Ávila, era torturado nas masmorras de Netanyahu.
Gilson Chagas foi a Israel conhecer “inovações em segurança publica”. Quando voltar, poderá, são e salvo, contar o que deu tempo de aprender para aplicar no último bastião democrático do Grande Rio. Quem sabe a última das Forças de Segurança de Israel em Gaza: atrair famintos com ajuda humanitária para entregar a eles, em vez de comida, chuvas de balas.
Eita porra...
A palestina é aqui!