Sobre a contagem de nossas cabeças
"Por volta das 16h" não parece ter sido, não mesmo, o ápice da manifestação contra a bandidagem e a anistia a golpistas na altura do posto 5, em Copacabana.
Desde o cair da noite deste domingo, 21, dia de manifestações multitudinárias em várias cidades do Brasil, a imprensa corporativa vem dizendo que o ato contra a PEC da Bandidagem e o PL da Anistia “levou 41,8 mil pessoas a Copacabana”. A contagem foi feita pelo Monitor do Debate Político, “projeto de pesquisa” nascido na USP, hoje sediado no CEBRAP (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) e que tem parceria com uma ong internacional que busca “encontrar pontos em comum” entre o que chama de “forças que nos separam”.
Com ajuda de “inteligência artificial”, chegou-se a “um número parecido” de pessoas que participaram da manifestação bolsogolpista em Copacabana no último 7 de setembro, que foram 42,7 mil, segundo o mesmo “monitor”. A imprensa informa que o cálculo do número de pessoas na manifestação deste domingo no Rio de Janeiro foi feito “por volta das 16h na altura do Posto 5”. Sobre isso, parece que quem faz as manchetes não fez questionamentos. Pois deveria.
Na tarde deste domingo, quem foi para Copacabana de ônibus, van, táxi, carro próprio ou carro de aplicativo não levou menos de uma hora de viagem se partiu, por exemplo, da região central do Rio de Janeiro, um trajeto que normalmente percorre-se, de carro, em não muito mais que 10, 12 minutos. Com a pista expressa do Aterro do Flamengo fechada (como fica aos domingos) e muitos eventos acontecendo da Lapa à Zona Sul (inclusive um evento religioso também em Copacabana), o trânsito deu um nó de almirante golpista.
Por volta das 13:15h, na Avenida Antonio Carlos altura da Franklin Roosevelt, no Castelo, um carro preto com giroflex e sem identificação parou no meio do cruzamento, um homem sem identificação desceu do carro e, muito agressivo — especialmente com a motorista de uma van —, começou a dar ordens de guardinha da esquina.
O caso é que por volta das 16h, em Copacabana, a rua Miguel Lemos não parava de despejar na Avenida Atlântica um caudaloso rio de pessoas que vinha da Estação Cantagalo do metrô, que fica a cinco quarteirões da praia. O vídeo abaixo foi gravado dentro da Estação Cantagalo às 15:49h e mostra a multidão que não parava de desembarcar e ainda teria de caminhar de 10 a 15 minutos até chegar ao local da manifestação.
Cada trem do Metrô Rio pode transportar cerca de 1.800 pessoas numa viagem, e eles chegavam lotados na Estação Cantagalo, um após o outro, por volta das 16h. De modo que “por volta das 16h na altura do Posto 5” não parece ter sido, não mesmo, o ápice da manifestação em Copacabana.
Além disso, ainda sobre quantas pessoas foram a Copacabana neste domingo contra a bandidagem e a anistia, a essa altura muitas pessoas já tinham feito ou começavam a fazer o caminho inverso, ou seja, já tinha deixado o ato ou estavam indo embora. Eram principalmente idosos e pessoas com crianças que tinham chegado por volta da hora marcada para a manifestação, 14h, e não puderam muito tempo com o calor que fez neste domingo no Rio.
E eram muitos os idosos na manifestação contra a bandidagem e a anistia neste domingo em Copacabana. Eram muitos e muito altivos, muito combativos. Foi uma senhora anti-bandidagem e anti-anistia quem confrontou uma mocinha que ameaçava avançar contra as pessoas com uma motoneta elétrica, na ciclovia da Avenida Atlântica, bem na frente do posto 5, por volta das 15h.
Ali, pertinho dos bonecos infláveis de Jair “Presidiário” Bolsonaro e Donald “Epstein” Trump, a mocinha acelerava contra as pessoas “empurradas” para a ciclovia por motivo de multidão; fazia ameacinhas com o acelerador usando óculos de sol estilizados com a bandeira dos EUA, convicta de que tinham invadido a sua praia e de resto envenenada com as ideias mais distorcidas sobre o direito de ir e vir, mesmo que desde agosto do ano passado seja proibido andar de motoneta nas ciclovias do Rio de Janeiro.
“Atenção ao pisar o asfalto”, cantaram depois, ali no posto 5, Gil e Caetano — um de verde e o outro de amarelo. Noves fora as pequenas provocações, como a da mocinha MAGA no Rio, e grandes afrontas, como a da GCM de Ricardo Nunes em São Paulo, as manifestações deste domingo em todo o Brasil podem ser resumidas numa palavra: reencontro. Não entre este e aquele, mas de dezenas de milhares de companheiros novamente pisando o asfalto juntos. Juntos e debaixo das mais dignas e justas bandeiras do povo brasileiro, em vez da bandeira alheia.
Não será, não mesmo, nenhum Instituto Pablo Ortellado de Contagem de Cabeças, nenhum datapolarização que irá nos dizer que fizemos, fazemos ou faremos, juntos, o mesmo que faz, contra o Brasil, o lado de lá.