Sobre fontes e chafarizes
Fontes anônimas, mas não alheias, como os chafarizes, ao movimento ali na rua.
Em julho de 2022, semanas antes de Alexandre de Moraes assumir a presidência do Tribunal Superior Eleitoral, a jornalista Malu Gaspar publicou em seu blog no Globo um artigo assim intitulado: “Militares dizem não abrir mão de três pontos para distensionar ambiente até a eleição”.
No meio do artigo, Gaspar escreveu que as Forças Armadas vinham, “indiretamente”, mandando este recado aos ministros do TSE. Com a leveza de uma bigorna em queda livre, a jornalista, como se vê, atribuía a terceiros, nunca si própria, o papel de leva e traz de milicos golpistas, antipetistas, antipovo.
No caso Moraes/Master, o problema com as fontes de Malu Gaspar é o de sempre: fontes não são chafarizes, ou seja, não jorram água ou informação em ciclo contínuo e indiferentes ao movimento ali na rua, mas por vezes à moda da música do Chico: “Pode inventar qualquer mundo, como um vagabundo/se for por você/basta sonhar com você”.
Como disseram Carol Proner e Pedro Serrano, “desconfiamos porque temos memória”. Nesta onda de calor — o de outra eleição presidencial se aproximando —, fontes viram chafarizes do Mestre Valentim para aqueles que têm sempre alvo e timing certos, mas não têm mais nada, sequer pudores para buscar assim — reeditando o catastrófico modo de operar lavajatista — o seu refresco.
Fontes não são chafarizes e os editoriais natalinos da Folha sobre o caso Master/Moraes — “Poderosos se protegem, e corrupção se alastra” — e do Estadão sobre o valor de venda da força de trabalho no Brasil — “A aposta leviana no salário mínimo” — não foram escritos pelo Grinch, mas por outras criaturas movidas pelo ódio.
“Que não haja complacência com petistas e cupinchas de Lula pelo fato de amigos do presidente comandarem a Polícia Federal e vestirem togas no Supremo”, chega a dizer o editorial da Folha, espumando.
Que ninguém se engane, porque independentemente do contrato milionário de Viviane Barci de Moraes com o Master, unem-se numa Santa Aliança contra a reeleição de Lula, a independência da PF e os inquéritos que correm no STF: a máfia do orçamento secreto e a Faria Lima metida com a máfia de São Paulo; a mídia corporativa e suas fontes anônimas, mas não alheias a inconfessáveis interesses; os radicais de Santa Catarina e os policiais chacineiros do Rio de Janeiro; e não vamos esquecer dos pastores de ovelhas.
Um deles, o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), ameaçou abertamente não apenas Alexandre de Moraes, mas também a família de Moraes, em agosto, quando Silas Malafaia foi alvo de uma ordem de busca e apreensão. Disse Sóstenes, na tribuna da Câmara, quatro meses antes de ser flagrado guardando em sacos de lixo quase meio milhão de reais em espécie:
“Nós não arregamos, porque nós somos cristãos. Não queremos essa guerra. Alexandre de Moraes, pare! Por você e pela sua descendência! Não pode se levantar contra líderes religiosos. Você pagará caro por isso”.



