Terras e moedas raras 'no contexto das tarifas'
As peças se movem sobre o solo brasileiro apenas 30% prospectado para mineração.
O Grupo Lide, de João Dória, realizou na última quarta-feira, 30, em São Paulo, um seminário sobre o futuro da mineração no Brasil. O evento aconteceu no momento em que os EUA requisitam as terras raras e minerais críticos do país, entre outros nacos da soberania nacional. Dória, como se sabe, sonha em fazer do Brasil um condado da Flórida, tipo Palm Beach, Monroe ou Miami-Dade.
No evento, João Dória reuniu os deputados federais do Centrão Zé Silva (Solidariedade-MG) e Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) e o general da reserva do Exército Brasileiro Fernando Azevedo e Silva, ex-ministro da Defesa no governo de Jair Bolsonaro. Por quê?
Vamos aos nomes.
O deputado Zé Silva é presidente e o deputado Arnaldo Jardim é diretor regional do Sudeste da bancada da mineração, que defende os interesses do capital minerador no Congresso sob o nome fantasia Frente Parlamentar de Mineração Sustentável. Zé Silva e Arnaldo Jardim são também autor e relator, respectivamente, do Projeto de Lei 2.780/2024, que cria a Política Nacional de Minerais Críticos e Estratégicos.
Quanto ao general Fernando Azevedo e Silva, ele é hoje vice-presidente do lobby minerário que atua sob a razão social Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). A diretoria do Ibram anda em reuniões com o encarregado de negócios dos EUA no Brasil, Gabriel Escobar, para tratar do “interesse” de Donald Trump nas terras raras brasileiras “no contexto das tarifas”.
O presidente do Ibram é Raul Jungmann, ex-ministro da Defesa de Michel Temer, ou seja, do golpe de 2016. Por uma coincidência, Jungmann é também “head” do Comitê de Mineração do Lide de João Dória. No dia 18 de julho, “no contexto das tarifas”, um outro comitê do Lide, o de Comércio Exterior, defendeu “concessões bilaterais” a fim de “restaurar e ampliar o ambiente favorável aos negócios e aos investimentos entre Brasil e EUA”.
Voltando a Azevedo e Silva, foi ele o general escolhido em 2018 pelo então comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, para “assessorar” Dias Toffoli na presidência do STF às portas do governo Bolsonaro.
Necromante do golpismo de coturno no Brasil, o general Villas Bôas é o mentor do “Projeto de Nação - o Brasil em 2035”, projeto de ditadura reloaded urdido na caserna durante o governo Bolsonaro e que previa (que prevê?) “regulamentar a participação de capital estrangeiro nas atividades de exploração mineral” e “remover as restrições da legislação indígena e ambiental, que se conclua serem radicais, nas áreas atrativas do agronegócio e da mineração”.
Nesta segunda-feira, 4, ainda “no contexto das tarifas”, em meio à chantagem de Trump pelas terras raras e minerais críticos do Brasil, entre outros bocados da soberania brasileira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu lamentavelmente que o país faça “acordos de cooperação” com os EUA na área de mineração.
O governo Lula tem dito que “nossa soberania não é moeda de troca”. Mas moedas raras, quem sabe…