Tic-tac, senador
É bom lembrar: ligado por testemunha ao esquema PCC-Combustíveis-Faria Lima, é bom lembrar que Ciro Nogueira foi flagrado há poucos meses tramando com a Faria Lima um complô contra o governo Lula.
Uma testemunha da operação Carbono Oculto disse à Polícia Federal que os chefes do esquema do PCC no mercado de combustíveis entregaram uma sacola de dinheiro ao senador Ciro Nogueira (PP-PI) no ano passado. A informação é do ICL Notícias, veículo que foi classificado pelo senador, após a publicação da reportagem, como um “um site de pistolagem da esquerda contra seus adversários”.
O dinheiro do PCC seria pagamento por Ciro Nogueira ter feito gestões em favor da máfia na Agência Nacional do Petróleo (ANP) e atrapalhado o andamento no Senado de um projeto de lei contrário aos interesses dos mafiosos. Trata-se do PL para tipificar e punir o chamado devedor contumaz, pessoa jurídica que usa a inadimplência fiscal como parte do próprio modelo de negócio.
Foi justamente assim, com base na artimanha do devedor contumaz, que o esquema PCC-Combustíveis-Faria Lima foi estruturado. É bom lembrar que meses atrás, em abril, o mesmo ICL Notícias divulgou um áudio de Ciro Nogueira tramando com a Faria Lima um complô contra o governo Lula.
No ano passado, Ciro Nogueira apresentou emendas ao PL do Devedor Contumaz que na prática excluíam o setor de combustíveis do escopo do projeto. As emendas de Nogueira foram rejeitadas pelo relator do PL, senador Efraim Filho (União Brasil-PB). Após a deflagração da Carbono Oculto, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, pautou a votação do PL para esta terça-feira, 2. O projeto está pronto para votação desde o fim de dezembro, quando tramitava em regime de urgência. Porém, na volta dos trabalhos do Congresso, em fevereiro, a urgência foi retirada e o texto ficou dormitando esperando inclusão “oportunamente” em Ordem do Dia.
Os chefes do esquema do PCC que teriam subornado Ciro Nogueira são Mohamad Hussein Mourad, o “Primo”, e Roberto Augusto Leme da Silva, o “Beto Louco”. Eles estão foragidos. Suspeita-se que foram avisados com antecedência sobre a deflagração da Carbono Oculto. “Primo” e “Beto Louco” seriam os verdadeiros donos da Copape e da Aster, principais empresas envolvidas na infiltração da máfia no setor de combustíveis.
As emendas supostamente pró-máfia de Ciro Nogueira ao PL do Devedor Contumaz foram apresentadas em meados de junho do ano passado. Um mês antes, em meados de maio, Nogueira participou de um jantar no Cipriani, em Manhattan, Nova York, oferecido pela empresa de postos de combustíveis Gulf. A Gulf vende combustíveis da Refit, a antiga refinaria de Manguinhos. O grupo Refit é um dos maiores devedores contumazes do Brasil, com dívidas bilionárias de ICMS.
Segundo a Carbono Oculto, o grupo Refit substituiu a Copape e a Aster na distribuição de combustíveis do PCC quando as empresas de “Primo” e “Beto Louco” tiveram suas licenças cassadas pela ANP, em julho do ano passado. O dono da Refit é Ricardo Magro, amigo de Ciro Nogueira. Magro é ex-advogado de Eduardo “Que Deus tenha misericórdia dessa Nação” Cunha. Ele chegou a ser preso anos atrás por desvios em fundos de pensão. Depois, foi absolvido e hoje vive em Miami.
Comentando a sucessão da Copape/Aster pela Refit no esquema mafioso, um promotor do Gaeco que participa da Carbono Oculto afirmou ao Metrópoles que neste ninho de mafagafos, por assim dizer, “não existem inimigos, só interesses”.
Em maio deste ano, um ano depois daquele jantar no Cipriani, aconteceu no hotel St. Regis, também em Manhattan, um evento do grupo Abril, da revista Veja, com apoio da famigerada Paraná Pesquisas e com patrocínio “master” dela, a Refit. Semanas antes, em março, saía uma edição da Veja Rio com sobrecapa publicitária da Refit: “Refit: a energia que transforma o Rio”.
Participaram da ignomínia no hotel St. Regis o governador do Rio, Claudio Castro, o de Goiás, Ronaldo Caiado, o líder do governo no Senado, Jacques Wagner, o presidente do STF, Luis Roberto Barroso, o presidente da Câmara, Hugo Motta, o presidente do conselho do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, entre outros, como o senador da República e presidente do Progressistas, Ciro Nogueira.
Ciro Nogueira, aquele que no dia 27 de novembro de 2022, quando era ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro, com os acampamentos golpistas de pé na frente dos quartéis, com um golpe de Estado sendo tramado entre o Palácio da Alvorada e o apartamento do general Braga Netto; naquele dia, dizíamos, Ciro Nogueira publicou uma mensagem “misteriosa” no Twitter. Esta:
“Não digam que não avisei. Não foi por falta de alerta. O tempo não para: tic tac tic tac tic tac tic tac…”
Tic-tac, senador.
O Golpe
Amanhã começa...