Transplantes infectados: vai saindo de fininho, a turma do Doutor Luizinho
Contrato que resultou em infecções com HIV foi assinado por ex-assessora parlamentar do ex-secretário de Saúde do Rio de Janeiro.

Uma ex-assessora parlamentar do deputado federal Doutor Luizinho (PP-RJ) foi quem assinou pela Fundação Saúde do Rio de Janeiro, junto com o diretor executivo da entidade, o contrato que resultou na infecção com o vírus HIV de pelo menos seis pacientes transplantados. O laboratório contratado, o PCS Saleme, pertence a parentes de Doutor Luizinho.
O contrato entre o PCS Saleme e a Fundação Saúde foi assinado no dia 1º de dezembro do ano passado, menos de três meses após Doutor Luizinho deixar a Secretaria de Saúde do Rio, à qual a fundação está vinculada. Luizinho deixou o cargo para assumir a liderança do PP na Câmara dos Deputados. Ao sair, indicou a Claudio Castro o nome de Claudia Mello, seu “braço direito” na secretaria, para ficar no seu lugar.
Pelo laboratório de Nova Iguaçu, quem pôs lá seu jamegão foi Matheus Salles Teixeira Bandoli Vieira, primo de Doutor Luizinho. Pela Fundação Saúde, assinaram o contrato infeccioso o senhor João Ricardo da Silva Pilotto, diretor executivo da fundação nomeado por Luizinho, e Alessandra Monteiro Pereira, diretora Administrativa Financeira.
À Diretoria Administrativa e Financeira da Fundação Saúde do Rio de Janeiro está subordinada a coordenação de licitação do órgão. O pregão eletrônico vencido pelo tio e pelo primo de Luizinho foi para a feitura de 1,2 milhão de exames para 11 unidades públicas de saúde num período de 12 meses. Alessandra Pereira foi secretária parlamentar de Doutor Luizinho entre junho de 2019 e setembro de 2020, como consta nos registros de pessoal da Câmara.
Em nome do rigor da informação, é importante ressaltar que Alessandra Pereira já trabalhava na Fundação Saúde antes da primeira gestão de Doutor Luizinho na Secretaria de Saúde do Rio, entre 2016 e 2018. Foi naquela primeira aparição de Luizinho na pasta, porém, que Alessandra apareceu pela primeira vez como diretora Administrativa Financeira do órgão.
No ano passado, antes de assinar o contrato com o PCS Saleme, a ex-funcionária do gabinete de Doutor Luizinho já tinha assinado o indeferimento de um pedido de inabilitação do laboratório no processo licitatório. O pedido foi feito em um recurso apresentado à Fundação Saúde por um outro laboratório, este derrotado no pregão.
No recurso, o laboratório Blessing chamou a atenção para a exigência, prevista em edital, de apresentação de Atestado de Capacidade Técnica (ACT) comprovando experiência prévia de no mínimo 648.411 exames realizados - 50% do total projetado no contrato. Segundo o recurso, o PCS Saleme apresentou ACT para 581.820 exames, exatamente 66.591 a menos do que previa o edital.
Alessandra Pereira citou refutação dos argumentos do Blessing pelo setor técnico da Fundação Saúde, manteve o resultado do certame e mandou o contrato com o PCS Saleme para o prelo.
Nesta segunda-feira, 21, na esteira do escândalo da infecção de pacientes transplantados pelo vírus HIV no Rio de Janeiro, o governo Claudio Castro anunciou a exoneração de toda a diretoria da Fundação Saúde. A informação oficial é que a diretoria apresentou renúncia coletiva.
"A medida amplia a transparência e assegura que não haja interferências nas apurações já determinadas pelo Governo do Estado", disse em nota a Secretaria Estadual de Comunicação.
Além de João Ricardo Pilotto e Alessandra Pereira, também fazia parte da diretoria da Fundação Saúde, entre outros, a dentista Débora Lúcia Teixeira Medina de Figueiredo, que é irmã de Doutor Luizinho. Ela era Diretora de Planejamento e Gestão da fundação.
No mesmo dia em que toda a cúpula da Fundação Saúde saía de cena, de fininho, para ninguém ver Doutor Luizinho, a Secretaria de Saúde do Rio informou que um dos pacientes que receberam órgãos infectados com HIV foi internado em estado grave.
Pacientes transplantados têm que tomar imunossupressores para evitar que o corpo rejeite o novo órgão. Lembra? No caso Fundação Saúde/PCS Saleme, imunossupressores para infectados com HIV. Já pensou?
O paciente deu entrada no Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, vinculado a outra fundação. Esta, uma fundação que se preza: a Fiocruz.