Três tiros contra Herus
Investigação da Polícia Civil sobre a morte de Herus Guimarães pela PM "concluiu" que não houve ilegalidade na conduta policial e que a morte do office boy foi resultado de “legítima defesa putativa”.
Rio de Janeiro, madrugada de 7 de junho de 2025. Uma dúzia de “caveiras” aparece abrindo fogo no meio de uma festa junina no Morro Santo Amaro, no Catete, não muito longe do Quartel do Vale dos Ossos Secos, sede do Batalhão de Operações Especiais da PM do Rio (Bope).
Durante a “operação” do Bope, o office boy Herus Guimarães Mendes, de 23 anos, é alvejado na barriga com um tiro de fuzil e morre no local. Outros cinco moradores do morro são baleados.
“O policial arrastou o meu filho pela escada, jogou o corpo do meu filho e gritou que ele era vigia [do tráfico]”, contou no dia seguinte a mãe de Herus, Mônica Guimarães, aos prantos, num ato por justiça, por Herus, que reuniu centenas de pessoas no Catete e na Glória após o enterro do jovem no cemitério São João Batista, em Botafogo.
“Eu vigiei meu filho, tomei conta, fui atrás para ele não entrar para essa vida, porque eu não queria perder meu filho, não queria enterrá-lo”, disse ainda Mônica Guimarães durante a manifestação.
De nada adiantou. O Bope, a PM do Rio, o governador do Rio, Claudio Castro, eles foram lá no morro e mataram Herus mesmo assim.
Na época, menos de quatro meses atrás, diante da enorme comoção pelo assassinato de Herus, Castro determinou o afastamento dos 12 “caveiras” que invadiram a festa junina a tiros de fuzil e exonerou os comandantes do Bope, coronel Aristheu de Góes Lopes, e do Comando de Operações Especiais (COE), André Luiz de Souza Batista.
Porém, há exatamente um mês, no último 1º de setembro, o coronel Aristheu foi nomeado superintendente de Gestão Integrada da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Entre as atribuições do cargo está “apoiar decisões em situações de crise”. O presidente do Instituto Ame o Santo Amaro, Lucas Pessoa, relatou que Mônica Guimarães soube da nomeação de Aristheu no dia em que se completaram três meses do homicídio do seu filho, e passou mal.
“É como se tivesse sido dado outro tiro”, disse Lucas ao jornal A Nova Democracia.
Na última segunda-feira, 29, pipocou um terceiro tiro contra Herus, contra o Morro Santo Amaro, contra as classes populares do Rio de Janeiro: a Polícia Civil do Rio anunciou que a investigação sobre a morte do office boy “concluiu” que não houve excesso ou ilegalidade na conduta policial e que a morte de Herus foi resultado de “legítima defesa putativa”.
Segundo O Globo, “a legítima defesa putativa ocorre quando uma pessoa, acreditando estar numa situação em que corre risco, reage a ela, mesmo que esse risco se comprove depois falso”.
Caveira que é caveira já anotou a senha, percebeu a piscadela: “legítima defesa putativa”.
Até quando?!? Até quando...?