Tudo como sempre no quartel de Alcides
Cerimônia de promoção de novos generais do Exército teve as presenças do grande responsável pelo recrudescimento do golpismo na “caserna de Caxias” e de um dos líderes do motim no Congresso Nacional.
Aconteceu na última quinta-feira, 7, no Clube do Exército, em Brasília, a cerimônia de entrega de espadas aos generais recém-promovidos do Exército Brasileiro e está tudo como sempre no quartel de Abrantes: estavam presentes na solenidade de tradição centenária o principal responsável pelo recrudescimento do golpismo na “caserna de Caxias”, general Eduardo Villas Bôas, e um dos líderes do motim da semana passada no Congresso Nacional, o deputado federal e tenente-coronel da reserva do Exército Luciano Zucco (PL-RS).
Ao general Eduardo Villas Bôas o capitão Jair Bolsonaro atribui a glória de ter chegado à presidência da República. Por quê? “Morrerá entre nós”, disse o capitão ao seu general anos atrás, logo assim que tomou posse do cargo. Mas pelo menos uma das razões é pública: a ameaça, pública, feita ao STF em 2018 por Villas Bôas, então comandante do Exército, na véspera do julgamento de habeas corpus cujo resultado poderia ter colocado Lula contra Bolsonaro na disputa pelo Palácio do Planalto já em 2018, em vez de só em 2022. Poderia.
Na última quinta, na cerimônia de promoção dos oficiais-generais do Exército, sentou-se ao lado de Villas Bôas outro capitão, Tarcísio de Freitas. Aspirante de 1996 da Aman, Tarcísio foi prestigiar a ascensão ao generalato de 16 dos seus colegas da Turma Bicentenário da Inconfidência Mineira, no momento em que, vestindo MAGA, o governador de São Paulo aspira a palácio mais brilhante que o Bandeirantes.
Outro colega de turma de Tarcísio na Aman, o líder da oposição na Câmara, Luciano Zucco, foi ao Clube do Exército prestigiar a promoção do seu irmão mais velho, Marcelo Zucco, de general de brigada a general de divisão. Horas antes, o deputado dava entrevistas como um dos líderes da segunda tentativa de golpe no Brasil em menos de três anos: o fechamento à força do Congresso Nacional. Há três anos, o general Zucco, agora promovido, era apontado como um dos responsáveis por retardar as operações militares contra o garimpo na Terra Indígena Yanomami.
Destaque ainda para a promoção de Alcides Valeriano de Faria Júnior a general de Exército, quatro estrelas, mais alta patente da Força Terrestre. Da nobre arma da cavalaria, o general Alcides, como é conhecido, foi subcomandante do Comando Sul do Exército dos… Estados Unidos da América. Isso mesmo, e isso no governo Bolsonaro e no primeiro governo de Donald Trump nos EUA.
Algum tempo atrás, no meio das revelações pela Polícia Federal sobre a tentativa de golpe por Bolsonaro e altos oficiais das Forças Armadas, Alcides reclamou na revista Verde Oliva dos “corações mesquinhos” que criticam o Exército e se gabou, o ex-subordinado a autoridades estadunidenses, de que a Força arriscou-se “em pleno carnaval” para socorrer brasileiros soterrados nos deslizamentos em São Sebastião, no litoral paulista.
Tudo como dantes, como sempre, no quartel de Abrantes. Ou seria de Alcides?
Em discurso na cerimônia da última quinta no Clube do Exército, o chefe do Estado-Maior da Força, general Richard Fernandez Nunes, cumprimentou os novos generais de brigada, de divisão e de Exército, como o general Zucco, como o general Alcides, e disse a eles o que Villas Bôas, ou melhor, “o que os companheiros mais antigos que aqui vêm saudá-los esperam de vocês”:
“Meus caros generais, vocês têm-se preparado para essas relevantes responsabilidades ao longo de suas exitosas carreiras. E, hoje, encontram-se em condições de tomar decisões nos níveis político, estratégico, operacional e tático”.