
O Estadão publicou nesta segunda-feira, 13, vídeos gravados no final de 2022 que mostram militares do Exército operando maquinário do Exército para, na frente do QG do Exército, em Brasília, remover lama e aplainar o terreno onde na época crescia feito capim-gordura o maior acampamento golpista do Brasil, aquele de onde uma turba bolsonarista saiu semanas depois, no dia 8 de janeiro de 2023, para atacar a Praça dos Três Poderes. Os vídeos mostram o Exército fazendo terraplanagem ao lado de barracas decoradas com faixas como “Supremo é o povo”.
“O Exército preparou o terreno para os acampamentos golpistas. Literalmente!”, observou Jeferson Miola em postagem no Facebook, comentando a matéria do Estadão.
De fato, os vídeos publicados pelo Estadão são mais um indicativo de que não para de pé a “tese” do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, e do atual comandante do Exército, general Tomás Paiva, sobre a participação de militares na tentativa de golpe de Jair Bolsonaro: a de que apenas “alguns CPFs de um CNPJ” teriam dado contribuições à conspiração que começou com os ataques às urnas eletrônicas, passou pela manutenção dos acampamentos bolsonaristas na frente dos quartéis e acabou abortada antes do soco na mesa.
Os vídeos foram gravados no dia 18 de novembro de 2022, quando os acampamentos golpistas cresciam como mato em todo o Brasil e não cresciam por acaso. Uma semana antes, no dia 11 de novembro, não um CNPJ, mas três — Exército, Marinha e Aeronáutica —, divulgaram uma nota conjunta de apoio aos acampados, cuja palavra de ordem era “intervenção militar” contra a eleição de Lula. Por meio da nota, intitulada “Às instituições e ao povo brasileiro”, os comandantes das Forças Armadas enfileiraram “recados” ao STF, ao TSE e a Alexandre de Moraes para depois terminarem ameaçando — não pode ser outra a palavra — com o “cumprimento das nobres missões de soldados brasileiros”.
Naquele mesmo dia, mais tarde, o tenente-coronel Mauro Cid enviou mensagem ao então comandante do Exército e um dos signatários da nota, general Freire Gomes, relatando que “o pessoal elogiou muito” a manifestação uníssona das Forças; que “eles estão sentindo o respaldo das Forças Armadas”; que, com a nota, “eles estão se sentindo seguros para dar um passo à frente”; que o passo à frente seria puxar o “movimento” para o “Congresso, STF, Praça dos Três Poderes”.
Entre a nota forte e a terraplanagem amiga, caiu uma chuva bíblica sobre o acampamento golpista do Forte Apache. Foi no dia 15 de novembro. Daí a lama. Daí que agora, vindo à tona os vídeos que mostram, expõem, revelam a Engenharia do Exército tirando a lama para golpista acampar, a Força enviou ao Estadão o seguinte “esclarecimento”; a Força anda tão acostumada a tantos se fazendo de cegos que ficou à vontade para mandar essa aqui:
“O Centro de Comunicação Social do Exército esclarece que o Setor Militar Urbano (SMU) é uma área sob jurisdição militar, cuja manutenção é realizada regularmente pela Força, visando a proporcionar um ambiente em condições adequadas para receber os frequentadores daquele espaço público. Cabe destacar que, sob a ótica do turismo, o SMU é um dos espaços públicos mais singulares e simbólicos da capital federal e se destaca tanto pela sua beleza estética quanto pelo seu valor cívico, histórico e cultural, combinando arte, natureza, arquitetura e simbolismo militar. Na ocasião relatada, o uso de maquinário de Engenharia se fez necessário para a manutenção do local, tendo em vista o acúmulo de lama e o desnível que se apresentava no terreno”.
Então ficamos assim: na época da lama e do desnível, por assim dizer, o Comando do Exército atuou “sob a ótica do turismo”.