'Um Girão pode alguma coisa, dois podem muito mais'
Sobre o "grau de envolvimento" de certos bolsonaristas com certas figuras obscuras que que queriam a mesma coisa que eles: intervenção dos "homens de botões dourados".

No dia 30 de novembro de 2022, aconteceu em pleno Senado da República uma reunião francamente golpista, de incitação a golpe de Estado, disfarçada de audiência pública para “discutir a fiscalização das inserções de propagandas politicas eleitorais”. Participaram daquela reunião, por exemplo, o argentino Fernando Cerimedo, apresentador da live “O Brasil foi roubado”; o parecerista de golpe Ives Gandra; o blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio e a deputada Carla Zambelli, hoje foragidos.
Naquela reunião, o desembargador aposentado Sebastião Coelho defendeu a prisão do então presidente da Justiça Eleitoral, Alexandre de Moraes, e foi aplaudido de pé por parlamentares bolsonaristas e “patriotas” autorizados a formar plateia, se não formar quadrilha.


Entre os “patriotas” presentes naquele dia no Anexo II, Ala Senador Nilo Coelho, Plenário nº 6 do Senado estava George Washington de Oliveira Sousa, que menos de um mês depois, no dia 24 de dezembro, tentou explodir um caminhão tanque no aeroporto de Brasília. Entre os deputados bolsonaristas que participaram da reunião estava Eliéser Girão Monteiro Filho, general reformado do Exército Brasileiro que se apresenta na política como General Girão.
A foto que ilustra esta matéria, feita naquele dia por Roque de Sá, da Agência Senado, mostra General Girão sentado no auditório, na segunda fileira, e, duas fileiras atrás, à esquerda de Girão, o terrorista George Washington, usando roupa camuflada e ocupando lugar reservado a parlamentares. Na mesma fileira de George Washington, atrás de Girão, estava Alan Diego Rodrigues, que também viria a participar da tentativa de atentado em Brasília na véspera de Natal.
Poucos dias depois daquela reunião golpista, em 11 de dezembro, véspera da tentativa de invasão à sede da Polícia Federal em Brasília, George Washington enviou mensagens a Girão informando “muitos fuzis à disposição” e pedindo: “não nos deixe sair como bandidos”. Em março de 2023, depondo na Justiça do Distrito Federal, o terrorista afirmou que conheceu Alan Diego “naquela audiência pública que aconteceu sob o comando do General Girão”.
Na verdade, a reunião golpista no Senado à qual George Washington compareceu, e compareceu todo camuflado, foi inventada e comandada pelo senador Eduardo Girão. O terrorista fez confusão, mas o caso é que, como disse General Girão naquele dia, naquele plenário, “um Girão pode alguma coisa, dois podem muito mais”, antes de saudar “o pessoal que está nas ruas e que tem representatividade hoje aqui” e de afirmar que “nós só temos um poder moderador neste país, e o poder moderador é a farda, são os homens de botões dourados”.
O terrorista fez confusão, mas o caso é que no dia 19 de dezembro de 2022, cinco dias antes de George Washington e Alan Diego tentarem mandar o aeroporto de Brasília pelos ares - a fim de “provocar a intervenção das Forças Armadas para impedir a instauração do comunismo Brasil” - , General Girão discursou num acampamento golpista, na porta do 16º Batalhão de Infantaria Motorizado, em Natal, exortando “patriotas” a botarem sapatinhos nas janelas porque naquela semana chegaria o Papai Noel. E o Papai Noel, disse Girão, “pode ser camuflado também”.
Em julho de 2023, Alexandre de Moraes determinou abertura de inquérito para investigar o “grau de envolvimento” do General Girão nos atos que visavam intervenção das Forças Armadas contra o resultado da eleição de Lula para o Palácio do Planalto. O inquérito já foi prorrogado várias vezes. A mais recente movimentação do inquérito 4939 aconteceu no último dia 22 de maio, quando Moraes enviou o processo à PGR, para nova manifestação.
No último 2 de junho, este Come Ananás mostrou que General Girão e o desembargador Sebastião Coelho foram as “estrelas” de um obscuro encontro de “grupos patriotas” realizado em setembro de 2023 na sede do Clube Militar, no Rio de Janeiro. O 1º Encontro Nacional dos Grupos Patriotas foi organizado pelo coronel reformado do Exército Etevaldo Luiz Caçadini. Semanas atrás, o coronel Caçadini foi apontado pela Polícia Federal como líder do grupo de extermínio Comando de Caça a Comunistas, Corruptos e Criminosos (Comando C4).
A PF encontrou em endereços ligados ao coronel Caçadini uma tabela com valores, com preços para espionagem ou até assassinato sob encomenda de autoridades. Um ministro do STF custava R$ 250 mil.