Veja só quem tem grau de investimento
Sim, a Enel São Paulo. Classificação foi mantida pela Fitch, Moody’s e S&P em avaliações feitas pós o apagão de novembro do ano passado, quando a inoperância da concessionária ficou patente.
No início de outubro, após a agência de rating Moody’s subir a nota do Brasil e deixar o país a um passo do “selo de bom pagador”, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, empolgou-se a ponto de propor um “pacto social” pelo grau de investimento.
Ceron, como Geraldo Alckmin, é um egresso de governos tucanos em São Paulo que está hoje nas cabeças do governo Lula III. Mas os cortes sociais anunciados nesta semana pelo Ministério da Fazenda mostram que Fernando Haddad também acha que o trabalhador brasileiro nada têm a perder a não ser o investment grade.
(No que Alckmin, novo “comunista”, grita lá do fundo: “têm um mundo a ganhar!”).
Na qualidade de ex-diretor da São Paulo Parcerias, quando cuidou das concessões/privatizações em São Paulo primeiro para Bruno Covas, depois para Ricardo Nunes (isso mesmo, para Ricardo Nunes), Rogério Cerón deve saber que as agências de “classificação de risco” desprezam, por exemplo, o risco de o trabalhador paulista ficar dias a fio sem luz.
É que se o Brasil ainda não tem grau de investimento em nenhuma das três grandes agências globais de rating, a concessionária Enel São Paulo tem nas três, todos mantidos em avaliações feitas pela Fitch, Moody’s e Standard & Poors após o grande apagão em São Paulo em novembro do ano passado, quando a inoperância da empresa e o fracasso da privatização do setor elétrico ficaram escancarados.
A avaliação mais recente foi feita pela Fitch, no fim de agosto. Na Fitch, a Eletropaulo Metropolitana Eletricidade de São Paulo, vulgo Enel São Paulo, ganhou AAA - a nota máxima do grau de investimento, não a pilha pra lanterna em dia de apagão.
No “comentário de ação de classificação”, espécie de justificativa da nota, a Fitch afirmou em agosto que havia no radar apenas um fator que poderia levar a um futuro rebaixamento da nota máxima da Enel São Paulo. Não um novo apagão, não milhões de pessoas de novo sem luz, mas uma eventual “expectativa de que a concessão não seja renovada”.
A controladora direta da Enel São Paulo, a Enel Brasil, bem como suas duas outras subsidiárias, a Enel Rio de Janeiro e a Enel Ceará, todas têm AAA na Fitch também.
Já a Moody’s e a Standard & Poor’s não classificam diretamente a Enel Brasil e suas três subsidiárias, mas classificam a controladora direta da Enel Brasil, que é a Enel Américas.
A nota da Enel Américas na Moody’s, avaliada em junho, é Baa2: grau de investimento.
No relatório referente à classificação, a Moody’s diz que manteve a nota da Enel Américas, entre outros motivos, porque acredita que “o processo de renovação das concessões regulamentadas brasileiras que expiram entre 2026 e 2028 avançará suavemente”.
Na Standard & Poor’s, a nota da Enel Américas, dada em fevereiro, é BBB-: primeiro degrau do grau investimento na tabela da S&P.
No dia 14 de abril de 2020, início da pandemia de covid-19, mas já com 1.552 mortos pela doença no Brasil até aquela data, a S&P soltou um boletim ao mercado dizendo que “distribuidoras brasileiras devem conseguir enfrentar a isenção de 90 dias dada aos consumidores de baixa renda para pagamento da conta de energia”.
A agência chegou a fazer uma tabela de “maior exposição [das concessionárias] a clientes de baixa renda no Brasil”, como se os clientes pobres das elétricas fossem alguma variante do vírus SarS-CoV-2.
Naquele boletim, a S&P informava assim ao mercado, no momento em que o Brasil caminhava para fechar abril de 2020 com seis mil mortes por exposição ao vírus da covid: “monitoraremos atentamente as distribuidoras que operam nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, as quais estão mais expostas aos clientes de baixa renda”.
Para esta sexta-feira, 18, a previsão do tempo para a área de concessão da Enel São Paulo é um museu das grandes novidades climáticas: muito chuva e vento muito forte. Mas, a exemplo do grau de investimento da Enel São Paulo, a classificação de risco segue inalterada na capital paulista: grau de apagão.