Sobre Come Ananás: a indagação da luta de classes
Grande poeta da Revolução Russa, Vladímir Maiakóvski amava, além da poesia, a classe trabalhadora, o Spartak Moscou, o desenho gráfico, Lília Brik e o jornalismo qualificado, não necessariamente nessa ordem.
Sobre fazer versos, e porventura sobre a prática jornalística também, Maiakóvski enfatizou certa vez que “é necessário indicar com precisão ou pelo menos dar a possibilidade de apresentar, sem erro, os traços do rosto do inimigo”.
E arrematou que, por isso:
Come ananás, mastiga perdiz.
Teu dia está prestes, burguês.
“Come Ananás”: o poema de luta, o dístico revolucionário de Maiakóvski que marinheiros revoltosos recitaram em coro quando investiram contra o Palácio de Inverno de São Petersburgo em outubro de 1917.
Quase um século mais tarde, em 2016, o poeta Augusto de Campos esclareceu à Folha de S.Paulo algo sobre a tradução que fez de “Come Ananás” durante a ditadura civil-militar no Brasil: “nunca fui comunista, mas não resisti ao trocadilho com Prestes”.
A referência foi a Luiz Carlos Prestes, o histórico secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro; Prestes, odiado pela ditadura.
Uma justa peraltice com as palavras, portanto.
Só que mais do que isso. Ao traduzir do idioma de Pushkin para o de Machado um dos poemas em que Maiakóvski se mostrou mais comprometido, Augusto de Campos não resistiu, na verdade, à indagação profunda da luta de classes.
Come Ananás é um projeto jornalístico assente em fazer diante dos fatos essa indagação fundamental, a indagação da luta de classes, sem a qual não é possível informar à vera sobre o Brasil.