Donald Trump contra 'qualquer grupo organizado'
Secretário de "Guerra" dos EUA chama generais para reunião em base a 60 km de Washington no dia do fim do prazo para aprovação do orçamento federal, que está sob impasse entre Trump e Democratas.

O presidente dos EUA, Donald Trump, assinou nesta quinta-feira, 25, um memorando de combate ao “terrorismo doméstico” e à “violência política organizada”. A setorista da Casa Branca do New York Times, Maggie Haberman, não hesitou em afirmar que “isso se refere a esforços para reprimir grupos alinhados aos Democratas”.
Trump mencionou especificamente “facções” de Portland, no Oregon. Foi em Portland que em 2020 aconteceram mais de 100 dias de protestos Black Lives Matter após o assassinato de George Floyd por policiais. Também nesta quinta, o ex-diretor do FBI James Comey, crítico de Trump, foi indiciado pelo Departamento de Justiça dos EUA, após pressão de Trump, sob acusações frágeis de falso testemunho e obstrução da Justiça.
Presente no Salão Oval para a assinatura do memorando, a procuradora-geral dos EUA, Pam Pondi, agradeceu a Trump por “tirar as algemas” da polícia e afirmou que o objetivo é reprimir “qualquer grupo organizado”, definição classificada pela mesma Maggie Haberman, do Times, como “notavelmente vaga”.
No outro lado do Atlântico, o britânico The Guardian foi bem claro: “Trump assina memorando contra o ‘terrorismo doméstico’ em meio a temores de repressão à esquerda”. O mesmo Guardian classificou o indiciamento de James Comey como “a mais recente e dramática ação até agora na campanha de retaliação do presidente Trump contra seus adversários políticos”.
Na última segunda-feira, 22, Trump assinou uma ordem executiva declarando o movimento Antifa (antifascista) uma “organização terrorista doméstica”, cumprindo ameaça feita pela primeira vez no seu primeiro governo, quando o movimento Antifa ganhou corpo nos EUA justamente na esteira dos protestos Black Lives Matter.
As canetadas de Donald Trump contra o que Golbery do Couto e Silva chamaria de “inimigo interno” acontecem no momento em que a equipe do secretário de Defesa ou de “Guerra” dos EUA, Pete Hegseth, trabalha em uma nova estratégia de defesa nacional para o Pentágono ou “Departamento de Guerra”. A nova estratégia teria foco “na segurança interna e na defesa do Hemisfério Ocidental”.
Ainda nesta quinta, o Washington Post revelou que Hegseth convocou dezenas ou talvez centenas de oficiais generais estadunidenses lotados nos quatro cantos do mundo para uma reunião no início da semana que vem em uma base do Corpo de Fuzileiros Navais na Virgínia.
O motivo da reunião sem paralelo recente não foi revelado, mas ela foi convocada em meio à mudança de posição de Trump sobre a Ucrânia, ao reforço do Comando Sul dos EUA aparentemente “apenas” contra a Venezuela e semanas após um encontro do chefe do SOUTHCOM com todas as Forças Armadas da América do Sul — exceto as da Venezuela — para tratar dos “desafios e ameaças que se estendem da Cordilheira dos Andes ao Estreito de Magalhães”.
A reunião foi convocada por Hegseth em meio também a um impasse entre a Casa Branca e o Partido Democrata sobre o orçamento federal dos EUA. O impasse pode paralisar o governo Trump e parece que aqui rolou “uma química”: o prazo para a aprovação do orçamento no Congresso estadunidense termina justamente no início da semana que vem, precisamente na próxima terça-feira, 30, mesmo dia em que Hegseth se reunirá com generais em Quantico, Virgínia, a 60 quilômetros de Washington.
À espera da cadeia, o almirante Almir Garnier vê o noticiário e lembra de quando encheu a Praça dos Três Poderes com blindados sambados, sob um pretexto qualquer, no mesmo dia da análise da PEC do Voto Impresso pela Câmara dos Deputados.