Julgamento dos golpistas: menos teorias, mais calorias
Uma semana depois da morte de Luis Fernando Veríssimo e depois da primeira semana do julgamento dos golpistas, convém lembrar de uma tira em particular das cobras do Veríssimo. Estrelando Tia Jiboia.
Luis Fernando Veríssimo morreu há uma semana, no último sábado, 30 de agosto. Nesse intervalo, os advogados dos réus do “núcleo crucial” da mais recente tentativa de golpe de Estado no Brasil citaram em suas argumentações diante da Primeira Turma do STF uma miríade de prosadores, poetas (poesia numa hora dessas?), cantores, famosos casos judiciais e até a própria sogra.
De Fernando Pessoa a Ariano Suassuna; de Belchior a Lewis Carroll; do caso Dreyfus a dona Zilda. Dona Zilda? Sim, a sogra de Andrew Fernandes Farias, advogado do general Paulo Sergio Nogueira de Oliveira, o ex-ministro da Defesa e dos Ataques às Urnas Eletrônicas que, não obstante, agora se diz inocente.
Além disso, do último sábado para cá, com a urdidura da anistia comendo solta no Congresso Nacional, com o Brasil e o mundo pegando fogo, a mídia corporativa se animou para fazer desfilar uma miríade de juristas mugindo teorias sobre se Jair Bolsonaro tentou mesmo dar um golpe de Estado ou se o golpista “parou em atos preparatórios”.
Depois dessa semana, uma semana depois da morte de Luis Fernando Veríssimo, convém lembrar de uma tira em particular das cobras do Veríssimo. Uma em que as cobras conversam com um boi e o boi diz assim:
“Jogo xadrez, sei latim e grego e toco acordeon. Estou desenvolvendo uma nova teoria sobre Bizâncio. Experimento com a métrica alexandrina e…”
É quando aparece Tia Jiboia, sempre faminta, partindo pra cima do boi, para engolir o boi.
As cobras, muito republicanas, protestam:
“Tia Jiboia! Não!”
Mas, ao contrário de cobras não muito criadas, Tia Jiboia é uma velha serpente. Por mais que jiboias não sejam venenosas, ela destila:
“O mundo precisa de menos teorias e mais calorias”
As cobras, resignadas, resmungam:
“É o fim da cultura clássica”
Grande Veríssimo! Um beijo na bochecha rechonchuda!
Belíssimo texto q traz à memória o grande Luis Fernando Veríssimo...