'Solicito concessão de asilo político à minha pessoa'
Para fugir do presídio da Papuda, o humano golpista evoca declaração, pacto, convenção e resolução de direitos humanos. Logo ele, para quem "a única coisa boa do Maranhão é o presídio de Pedrinhas".
Há uma década, o presídio de Pedrinhas, no Maranhão, era uma espécie de Meca dos que rejeitam os direitos humanos pela borda. Em Pedrinhas, nada menos que 170 presos foram mortos entre 2007 e 2013, vários deles decapitados. Tortura, mutilações, insalubridade total, familiares de presos estuprados, enfim, o paraíso dos “direitos humanos para humanos direitos”.
Naquela época, em fevereiro de 2014, um dos candidatos a presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara disse o seguinte sobre Pedrinhas, dando entrevista a vários repórteres no corredor das comissões:
“A única coisa boa do Maranhão é o presídio de Pedrinhas. É só você não estuprar, não sequestrar, não praticar latrocínio que você não vai pra lá, porra! Acabou! Acabou! Tem que dar vida boa para aqueles canalhas? Eles fodem nós a vida toda, daí que nós trabalhadores vamos manter esses caras presos numa vida boa? Eles têm que se fuder e acabou. Acabou, porra! É a minha ideia. E quem não tá contente que trabalhe contra minha chegada na comissão”.
O então deputado Jair Bolsonaro seria derrotado pelo petista Assis do Couto por 10 votos a 8, mas acabou vencendo eleição mais importante, quatro anos depois: para a presidência da República. Neste meio tempo, Bolsonaro publicou uma foto no Twitter segurando uma camiseta estampada com a frase “direitos humanos, esterco da vagabundagem” e homenageou o torturador da então presidenta do Brasil no microfone do plenário da Câmara.
Em 2020, empoleirado do Palácio, Bolsonaro repetiria aos berros que “acabou, porra!”, em outro quebra-queixo com a imprensa, descabelando-se com operações policiais contra aliados autorizadas por Alexandre de Moraes.
Em fevereiro do ano passado, exatos 10 anos depois daquela entrevista no corredor das comissões da Câmara dos Deputados - “A única coisa boa do Maranhão é o presídio de Pedrinhas” - Jair Bolsonaro salvou no celular uma carta para o presidente da Argentina, Javier Milei, citando a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o Pacto de San José da Costa Rica, a Convenção de Caracas de 1954, a Resolução 2312 da Assembleia Geral da ONU, tudo para pedir a Milei “concessão de asilo político à minha pessoa”, porque estaria sofrendo no Brasil, o humano golpista, violações dos direitos humanos.
Um detalhe da carta que vem sendo tratado como menor, mas é mesmo do maior escândalo: segundo a Polícia Federal, “o criador e último autor do documento remete ao usuário Fernanda Bolsonaro”. A dentista Fernanda Antunes Figueira Bolsonaro é a esposa do senador Flavio Bolsonaro, que, como este Come Ananás mostrou na última segunda-feira, 18, foi recebido e bajulado naquele dia na Academia Militar das Agulhas Negras pelo general-comandante da Aman e outros oficiais do Exército Brasileiro.
Até quando, hein? Até quando esse país vai fingir que não vê o envolvimento de um senador da República em plano de fuga de réu por golpe de Estado?