Estado-facção, não!
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Na última segunda-feira, 27 de outubro, abrimos a semana no Come Ananás com a matéria “Eleições na Argentina: a ESMA e o bairro”, na qual mostramos uma nuance particularmente perversa da vitória do partido de Javier Milei nas eleições legislativas de domingo passado na Argentina; de mais um triunfo dos negacionistas da sangrenta ditadura civil-militar-eclesiástica que sumiu com 30 mil pessoas no país.
Esta nuance aqui: na comuna mais populosa de Buenos Aires, a Comuna 13, onde fica o mais famoso centro de detenção, tortura e extermínio da ditadura argentina, a Escola de Mecânica da Armada, o candidato a deputado mais votado foi o advogado “libertário” Alejandro Fargosi, co-fundador do instituto negacionista da ditadura Centro de Estudos Legais Sobre o Terrorismo e Suas Vítimas.
Na Comuna 13, Fargosi teve precisamente 71.168 votos a mais do que a candidata da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores Myriam Bregman, ativista e advogada que atuou em vários casos judiciais contra os genocidas do cruento “Processo de Reorganização Nacional” na Argentina, incluindo a Megacausa ESMA.
A partir de terça-feira e ao longo de toda semana nos debruçamos sobre um banho de sangue nacional e hodierno: a “Megaoperação Contenção”, megachacina promovida por Claudio Castro no Rio de Janeiro a título de combate ao crime organizado que oprime os moradores das favelas do Rio. Foram cinco artigos de terça a sexta sobre o maior massacre policial da história do Rio, marco da transformação do estado em estado-facção e “programa” da extrema-direita não só fluminense, mas nacional, para as eleições de 2026.
Na terça, em “Claudio Bonfim Cruento de Castro e Silva”, chamamos a atenção para o fato de que a carnificina de Castro nos complexos de favelas da Penha e do Alemão aconteceu no momento em que a ADPF das Favelas, chamada por Castro de “maldita”, está sem relator, e, por outro lado, exatamente quando acaba de ganhar relator na Câmara das Deputados — Nikolas Ferreira — o Projeto de Lei 1283/25, que estende a aplicação da Lei Antiterrorismo a organizações criminosas, abrindo caminho para intervenção de Trump no Brasil em ano eleitoral.
Na quarta, publicamos o importante artigo “É guerra sim!”, de Elidio Alexandre Borges Marques, professor do Instituto de Relações Internacionais e Defesa da UFRJ. No artigo, Elídio alerta: “depois da condenação de Bolsonaro e da suspensão do confronto com Trump, o morticínio do Rio dá para a direita extremada no Brasil um novo caminho de afirmação”; “uma guerra política pelo próximo ano e pela fascistização da vida para muito além”.
Na mesma linha, ainda na quarta, mostramos no artigo “Necropalanques” que a megachacina na Penha e no Alemão e a movimentação política no imediato pós-chacina (com a reunião de necrogovernadores no Palácio Guanabara) indicam decisão da extrema-direita de conflagrar de vez o Rio de Janeiro visando conflagrar o país, quem sabe com apoio de outro país, às vésperas das eleições de 2026. Ou, como disse um senador do Brasil ao secretário de “Guerra” dos EUA, “você não gostaria de passar alguns meses aqui nos ajudando?”.
Na quinta, o artigo “Atire primeiro, teste o candidato depois” foi sobre a notícia de uma indecência em particular: após a “Megaoperação Contenção”, surgiu a informação de que o PL de Claudio Castro e dos Bolsonaro vai encomendar uma pesquisa com o nome do secretário de Polícia Civil no Rio, Felipe Curi — “a cara” da megaoperação na mídia —, como opção de candidato ao governo do Rio nas eleições do ano que vem.
Na sexta, em “‘Arranca a cabeça e deixa pendurada’”, ressaltamos o seguinte sobre a megachacina no Rio: um terço dos quase 100 mandados de prisão levados pelas “tropas de elite” de Claudio Castro para a carnificina, na qual um dos mortos teve a cabeça arrancada e pendurada numa árvore, foram expedidos pela Justiça do Pará, onde a “tropa de elite” da PM tem um cântico de decapitação.
Neste domingo, nestes dias de formação de bunker bolsofascista em uma das turmas do Supremo Tribunal Federal; de um ministro do Supremo falando em “sentimento constitucional do povo” dias antes de pesquisas indicarem apoio popular a chacinas promovidas por agentes públicos; de mancomunação do Procurador-Geral do Rio de Janeiro com Claudio Castro para transformar o Rio em estado-facção, publicamos o artigo “Ernst Janning, que fez da sua vida podridão”, evocando o filme Julgamento em Nuremberg, de 1961, no qual o Dan Haywood (Spencer Tracy) diz assim ao condenar à prisão perpétua os juristas que ajudaram o Führer a construir o Holocausto:
“O Direito Penal em toda sociedade civilizada tem um princípio em comum: qualquer pessoa que induz outra a cometer assassinato, qualquer pessoa que forneça os meios para cometer o crime, qualquer pessoa que seja cúmplice de um crime, é culpada.”
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