A semana no Come Ananás: megachacina no Rio, o 'jurista' Derrite e o Porsche do patrão da ex-nora do presidente
Um conhecido da mãe do primo do ex-genro de uma amiga toca um site de jornalismo independente que precisa de apoio — o seu apoio — para seguir fazendo diante dos fatos a indagação da luta de classes.
Na semana que passou, no Come Ananás: publicamos mais três matérias sobre a “megaoperação” — megachacina — policial-eleitoral nos complexos da Penha e do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, porque é necessário insistir nisso; outra sobre a tentativa da dupla dinâmica do partido “Republicanos”, Tarcísio e Hugo Motta, de enfraquecer a Polícia Federal, usando para isso interposta pessoa — Guilherme Derrite; e um artigo sobre a “notícia” de que “Justiça bloqueia Porsche de R$ 945 mil do patrão de ex-nora de Lula”.
Em “Era uma vez na zona norte”, lembramos que houve um tempo em que o governo do estado do Rio de Janeiro invadia complexos de favelas na zona norte da capital fluminense mas não para matar quem nasceu ali e depois dizer que tinham mesmo — que remédio, que jeito, que saída? — é que morrer. Muita gente se emocionou vendo o vídeo que inserimos na matéria de Leonel Brizola e Darcy Ribeiro inaugurando um Ciep na Maré, há 40 anos, em 1985.
“O Ciep vai ser assim: de manhã cedinho, as crianças vêm pra cá. O chefe da casa vai pro trabalho. E a chefa também. Pode ir pro trabalho porque as crianças vão ficar o dia inteiro aqui. Bem tratadas, estudando, brincando, comendo do melhor, tomando banho, tirando as lombrigas, tirando algum piolhinho que todo mundo tem…”, disse Brizola em seu discurso, arrancando gargalhadas da criançada.
“A criançada, olha! Tem criança em quantidade enorme. Esse é o tesouro da Maré. O seu filho, minha amiga. O guri que está ali, esse outro, a guria, esse menino, aquele ali, aquele, o outro. Essa meninada é o tesouro da Maré. Essa meninada é o tesouro do Brasil”, disse Darcy.
Em “‘Foras da lei, já nos bastam os bandidos’”, recuperamos um “tijolaço” de Brizola publicado na imprensa carioca no início da década de 1990, após a Anistia Internacional denunciar o extermínio de crianças no Brasil, entre elas os meninos e meninas que sumiram na chacina de Acari e nunca mais apareceram. Era o final do governo Moreira Franco e Brizola estava prestes a voltar ao Palácio Guanabara.
“Um governo coerente, no Rio de Janeiro, deve, logo ao assumir, deixar patente a sua determinação de pôr fim a essa matança. A mesma frieza e determinação que iremos empregar para combater os assaltantes, aqueles que roubam, matam e sequestram, terá de ser usada sobre os autores e responsáveis por esse genocídio. Precisamos de uma polícia eficiente, e não de uma polícia violenta. Esses grupos de assassinos só fazem gerar mais violência e criminalidade. Foras da lei, já nos bastam os bandidos. Os governos e sua força policial, para ter o respeito da população, devem ser os primeiros a zelar pelas garantias individuais e coletivas do povo a quem devem servir”, escreveu o engenheiro.
Em “As coisas típicas do Rio de Janeiro e a recomendação número 10 da Comissão da Verdade”, mostramos, após a Polícia Federal ser “dispensada” e a Defensoria Pública ser barrada nas perícias dos corpos da megachacina feitas pelo Instituto Médico-Legal Afrânio Peixoto, órgão da Polícia Civil do Rio; mostramos, dizíamos, que uma das 29 recomendações feitas ao Estado brasileiro há mais de 10 anos pela Comissão Nacional da Verdade, para fortalecer a democracia, foi essa: “desvinculação dos institutos médicos legais, bem como dos órgãos de perícia criminal, das secretarias de segurança pública e das polícias civis”.
Em “Relatoria Ostensiva Tobias de Aguiar”, chamamos a atenção para que Guilherme Derrite, encarregado de estropiar o PL Antifacção do governo Lula com um substitutivo bolsonarista, arvorou-se “profissional da segurança pública e jurista comprometido com a técnica legislativa e com a efetividade das normas penais”. Lembramos, então, que Derrite foi um profissional de segurança pública expulso da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, a Rota, “a polícia que mata”, por excesso de mortes em serviço, e que em 2015 o “jurista”, então 1º tenente da PMESP, foi preso administrativamente por dizer que era “vergonhoso” um policial trabalhar cinco anos na rua e não matar pelo menos três pessoas.
Por fim, em “Quando vi que ‘Justiça bloqueia Porsche do patrão de ex-nora de Lula’...”, notamos que a já famigerada “notícia” do Metrópoles faz lembrar aquele artifício de atribuir a terceira pessoa — ou quarta, ou quinta — determinada questão própria, eventualmente para encobrir à vera interesse inconfessável, mas na maioria das vezes para mal disfarçar, ou melhor, para disfarçar mal e de propósito, de brincadeira, aquilo que está mais do que na cara. Tipo: “Gente, vai ter sacanagem contra o Lula hoje? O ex-marido de uma conhecida de um primo do cunhado do patrão quer saber”.
E citamos algo sobre juntar palavras e fazer sentido — ou nem por isso — que está no livro Múltipla escolha, do chileno Alejandro Zambra. Trata-se de um livro-paródia da Prova de Aptidão Verbal, espécie de vestibular aplicado no Chile na ditadura de Pinochet. O que citamos, a propósito da “notícia” do Metrópoles, foi um exercício no qual Zambra pede para assinalar “a alternativa cujos elementos sintáticos melhor preencham as lacunas do enunciado”.
Este:
Quero juntar estas palavras, ________ nada tenha sentido.
A) ainda que
B) para que
C) e que
D) mas que
E) até que
Um conhecido da mãe do primo do ex-genro de uma amiga toca um site de jornalismo independente que precisa de apoio — o seu apoio — para seguir fazendo diante dos fatos a mais profunda das indagações: a indagação da luta de classes.
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